A partir do Vermelho foram vários trabalhos com a mesma técnica que estiveram expostos numa individual intitulada Fios de Palavras. Escrevi o texto-apresentação da mostra:
A escrita, a pintura e o tecer são faces da minha poética.
A escrita, que é a primeira fase do meu processo criativo, dá conta dos meus excessos e, ao mesmo tempo, funciona como um registro; o que escrevo fica guardado numa espécie de acervo de memória pessoal. No segundo momento, faço uma busca nesses arquivos mnemônicos, querendo capturar palavras/frases que sejam sonoras, que tenham ritmo e ressonância afetiva, para que sejam publicadas junto com a pintura e a trama.
O tecer remete a um tempo onde o ritmo era mais lento e o sentido de comunidade, mais real. O tecer evoca memórias pessoal, afetiva, familiar e também ancestral. A partir de um olhar contemporâneo, essa prática artesanal e ancestral é reconstruída. Essa trama surge, então, numa relação dinâmica com a escrita e a pintura. Sua função não é mais utilitária ou decorativa, como originalmente, agora é linguagem.
Como uma marca, os fios de palavras engendram maneiras através das quais vivencio prazeres e sombras, fazeres e silêncios. Esse tecido resultante é como uma identidade; preserva minha individualidade através da construção de memória pessoal e coletiva.
A produção pode ser vista, então, como uma tentativa de corporificação da subjetividade que torne possível o elo entre o abstrato e o concreto, o espontâneo e o sistemático, o sagrado e o humano. Talvez esse seja o meio que encontrei de transcender a tensão e integrar dois lados que, por vezes, parecem opostos.
Abril de 2006
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